Realidade x Programação

Realidade x Programação

Eu tive uma matéria só sobre isso no meu mestrado na PUC, em 2013. A ideia era transformar tudo em linguagem de programação.

Todos os problemas jurídicos tinham que ser reduzidos a equações. O professor, um “bam bam bam” do direito tributário, achava isso lindo. O resto da classe não parecia se importar.

Não percebiam que com isso estavam se reduzindo. Ao eliminar a carga semântica e valorativa dos textos e do direito o professor achava que tornava as decisões judiciais mais objetivas. Tenho a firme convicção que ele estava enganado, e foi uma matéria muito difícil pra mim, não pela sua complexidade, mas pela repulsa que a ideia me causava. Pra vocês terem uma ideia eu estudei pra prova lendo sites de programação de computador.

Soa inacreditável que essa ideia fosse levada a sério, mas é pra isso que estamos caminhando.

O positivista, o tecnocrata, vê o mundo e seus desafios basicamente como equações que podem ser encaradas sobre o prisma dos modais deônticos (o que deve ser, não o que é). É uma visão que se integra no movimento revolucionário, claro, pois o “iluminado” define o que deve ser e está se lixando pra realidade. Toda visão dessa gente é baseada no desprezo pela realidade.

O professor não era um revolucionário, longe disso. Pelo menos não de forma consciente. Acredito que ele só estava embasbacado com o avanço tecnológico e quis levar o tema pra sua área de atuação. Me lembrou os arquitetos modernistas, que ficaram maravilhados com a tecnologia mecânica de sua época (mais de 100 anos atrás) e também quiseram trazer isso pra sua área de atuação. Nessa linha, recomendo o documentário O Fim da Beleza, do Brasil Paralelo.

Como eu disse num texto anterior, basta um pensador jogar uma ideia que milhões de inocentes úteis, “práticos”, dão conta de leva-la adiante meio às cegas

VICTOR METTA